JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html
No passado sábado o Papa Francisco convocou oficialmente o Jubileu extraordinário da Misericórdia (Bula “Misericordiae Vultus” (“O rosto da Misericórdia”).
O longo documento divide-se, grosso modo, em três partes.
Na primeira, o Papa Francisco aprofunda o conceito de misericórdia e explica o porquê da escolha da data de início em 8 de dezembro, Solenidade de Maria: “para não deixar a humanidade sozinha à mercê do mal” e por coincidir com o 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, que derrubou as muralhas, “que por muito tempo mantiveram a Igreja fechada numa cidadela privilegiada”. “Na prática – diz o Papa – todos somos chamados a viver de misericórdia, porque a misericórdia foi usada connosco, em primeiro lugar”.
Na segunda parte, o Papa propõe algumas sugestões práticas para celebrar o Jubileu: realizar uma peregrinação; não julgar e não condenar, mas perdoar e doar, permanecendo afastado das fofocas e das palavras movidas por ciúmes e invejas, tornando-se “instrumentos de perdão”; abrir o coração às periferias existenciais; realizar com alegria obras de misericórdia corporal e espiritual e incrementar nas dioceses a iniciativa de oração e penitência “24 horas para o Senhor”, entre outros.
Por fim, na terceira parte, o Papa lança alguns apelos contra a criminalidade e a corrupção, dirigindo-se aos membros de grupos criminosos e aos corruptos, exorta ao diálogo inter-religioso e explica a relação entre justiça e misericórdia. A Bula conclui com a invocação a Maria, testemunha da misericórdia de Deus.
Esta Bula é um documento fundamental para percebermos o espírito com que é convocado, as intenções e os frutos esperados o Papa Francisco convoca este Jubileu extraordinário da Divina Misericórdia.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html
No passado sábado o Papa Francisco convocou oficialmente o Jubileu extraordinário da Misericórdia (Bula “Misericordiae Vultus” (“O rosto da Misericórdia”).
O longo documento divide-se, grosso modo, em três partes.
Na primeira, o Papa Francisco aprofunda o conceito de misericórdia e explica o porquê da escolha da data de início em 8 de dezembro, Solenidade de Maria: “para não deixar a humanidade sozinha à mercê do mal” e por coincidir com o 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, que derrubou as muralhas, “que por muito tempo mantiveram a Igreja fechada numa cidadela privilegiada”. “Na prática – diz o Papa – todos somos chamados a viver de misericórdia, porque a misericórdia foi usada connosco, em primeiro lugar”.
Na segunda parte, o Papa propõe algumas sugestões práticas para celebrar o Jubileu: realizar uma peregrinação; não julgar e não condenar, mas perdoar e doar, permanecendo afastado das fofocas e das palavras movidas por ciúmes e invejas, tornando-se “instrumentos de perdão”; abrir o coração às periferias existenciais; realizar com alegria obras de misericórdia corporal e espiritual e incrementar nas dioceses a iniciativa de oração e penitência “24 horas para o Senhor”, entre outros.
Por fim, na terceira parte, o Papa lança alguns apelos contra a criminalidade e a corrupção, dirigindo-se aos membros de grupos criminosos e aos corruptos, exorta ao diálogo inter-religioso e explica a relação entre justiça e misericórdia. A Bula conclui com a invocação a Maria, testemunha da misericórdia de Deus.
Esta Bula é um documento fundamental para percebermos o espírito com que é convocado, as intenções e os frutos esperados o Papa Francisco convoca este Jubileu extraordinário da Divina Misericórdia.
CARTA AOS DIOCESANOS
NA SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
Caríssimos irmãos e irmãs do Patriarcado de Lisboa
Com toda a corresponsabilidade e muita estima, dirijo-vos estas palavras em plena Semana de Oração pelas Vocações. Corresponsabilidade, pois foi a todos nós que Jesus mandou pedir ao Senhor da Messe que mande trabalhadores para a sua messe. Estima, pois tudo acontece numa causa necessária, que vivemos em comunhão e afeto.
Trata-se de algo fundamental e que nos compromete a todos. Porque faltam ministros ordenados, especialmente sacerdotes, para servirem as comunidades como sacramentos visíveis de Cristo Pastor; e porque faltam irmãos e irmãs que, pelos votos e pela vida, sejam sinais convincentes do absoluto de Deus e da entrega total ao seu serviço. Do mundo para Deus e de Deus para a missão, é este o arco completo da vocação cristã. E particularmente daquela que o Papa Francisco, na sua Mensagem para o 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (26 de abril de 2015), designa muito sugestivamente como «vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho».
Mas há algo de urgente, nisto que vos digo com o Papa Francisco. Na verdade, e falando em geral, diluiu-se a dimensão vocacional da existência cristã. Na sensibilidade comum, a vida é encarada mais como realização à escolha do que como resposta a um apelo de Deus e dos outros, que nos esperam. Mais como da vida para mim, insaciavelmente, do que de mim para a vida do mundo, disponivelmente. E o pior é que ficamos tristes por não termos tudo, quando só seríamos felizes se nos fizéssemos tudo para todos, segundo a vontade de Deus.
Creio que muita “iniciação” cristã não se realiza, de facto, porque não descobre nem desenvolve a dimensão vocacional da vida. - Quantos dos nossos adolescentes e jovens são estimulados a ouvir o chamamento divino, que lhes indicaria o que Deus espera deles e absolutamente os realizaria? Quando Paulo ouviu este chamamento e lhe correspondeu por inteiro, pôde escrever assim: «Nós fomos feitos por Deus, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2, 10). Mas é triste verificarmos como muita existência ficou por realizar, por não se descobrir o que Deus lhe oferecia, como apelo e missão. E porque na família e na comunidade nem sempre se acolhem, nem acompanham devidamente, os sinais de tal vocação... Por isso falo de urgência, neste tempo forte de oração pelas vocações. Em cada família e comunidade cristã, a dimensão vocacional de tudo o que se faça é básica e diz respeito a todos. Temos de tomá-la tão a sério como à própria realização feliz de cada destino humano, só em Deus garantido.
Agradeço muitíssimo a quem se dedica diretamente ao trabalho vocacional, nos seminários e no pré-seminário, nos institutos e comunidades, nos movimentos e grupos. Sei que é um trabalho árduo e que vai muitas vezes “contra a corrente” da sensibilidade ambiental a que acima aludi. Na verdade, leva a sair de si, num constante êxodo para Deus e para o mundo, em escuta e serviço. Mas é esta precisamente a vida de Cristo em nós, tal como Ele a viveu e a propôs.
Por isso reitero o reconhecimento e o estímulo aos que trabalham na pastoral vocacional e na formação sacerdotal, bem como de todas as vocações de especial consagração - ou especial “dedicação”, como escreve o Papa Francisco. É um trabalho indispensável, para que a missão de Jesus, que sempre chamou para sempre enviar, continue viva e salvadora na Igreja e no mundo.
Convosco, na escuta e na missão,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca Lisboa, 19 de abril de 2015 .
NA SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
Caríssimos irmãos e irmãs do Patriarcado de Lisboa
Com toda a corresponsabilidade e muita estima, dirijo-vos estas palavras em plena Semana de Oração pelas Vocações. Corresponsabilidade, pois foi a todos nós que Jesus mandou pedir ao Senhor da Messe que mande trabalhadores para a sua messe. Estima, pois tudo acontece numa causa necessária, que vivemos em comunhão e afeto.
Trata-se de algo fundamental e que nos compromete a todos. Porque faltam ministros ordenados, especialmente sacerdotes, para servirem as comunidades como sacramentos visíveis de Cristo Pastor; e porque faltam irmãos e irmãs que, pelos votos e pela vida, sejam sinais convincentes do absoluto de Deus e da entrega total ao seu serviço. Do mundo para Deus e de Deus para a missão, é este o arco completo da vocação cristã. E particularmente daquela que o Papa Francisco, na sua Mensagem para o 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (26 de abril de 2015), designa muito sugestivamente como «vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho».
Mas há algo de urgente, nisto que vos digo com o Papa Francisco. Na verdade, e falando em geral, diluiu-se a dimensão vocacional da existência cristã. Na sensibilidade comum, a vida é encarada mais como realização à escolha do que como resposta a um apelo de Deus e dos outros, que nos esperam. Mais como da vida para mim, insaciavelmente, do que de mim para a vida do mundo, disponivelmente. E o pior é que ficamos tristes por não termos tudo, quando só seríamos felizes se nos fizéssemos tudo para todos, segundo a vontade de Deus.
Creio que muita “iniciação” cristã não se realiza, de facto, porque não descobre nem desenvolve a dimensão vocacional da vida. - Quantos dos nossos adolescentes e jovens são estimulados a ouvir o chamamento divino, que lhes indicaria o que Deus espera deles e absolutamente os realizaria? Quando Paulo ouviu este chamamento e lhe correspondeu por inteiro, pôde escrever assim: «Nós fomos feitos por Deus, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2, 10). Mas é triste verificarmos como muita existência ficou por realizar, por não se descobrir o que Deus lhe oferecia, como apelo e missão. E porque na família e na comunidade nem sempre se acolhem, nem acompanham devidamente, os sinais de tal vocação... Por isso falo de urgência, neste tempo forte de oração pelas vocações. Em cada família e comunidade cristã, a dimensão vocacional de tudo o que se faça é básica e diz respeito a todos. Temos de tomá-la tão a sério como à própria realização feliz de cada destino humano, só em Deus garantido.
Agradeço muitíssimo a quem se dedica diretamente ao trabalho vocacional, nos seminários e no pré-seminário, nos institutos e comunidades, nos movimentos e grupos. Sei que é um trabalho árduo e que vai muitas vezes “contra a corrente” da sensibilidade ambiental a que acima aludi. Na verdade, leva a sair de si, num constante êxodo para Deus e para o mundo, em escuta e serviço. Mas é esta precisamente a vida de Cristo em nós, tal como Ele a viveu e a propôs.
Por isso reitero o reconhecimento e o estímulo aos que trabalham na pastoral vocacional e na formação sacerdotal, bem como de todas as vocações de especial consagração - ou especial “dedicação”, como escreve o Papa Francisco. É um trabalho indispensável, para que a missão de Jesus, que sempre chamou para sempre enviar, continue viva e salvadora na Igreja e no mundo.
Convosco, na escuta e na missão,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca Lisboa, 19 de abril de 2015 .
O SENHOR PATRIARCA FALA-NOS DO SÍNODO
No passado dia 21 de Janeiro, no auditório do Colégio Pedro Arrupe, o Senhor Patriarca falou-nos do Sínodo Diocesano.
Éramos cerca de 500, a juntar a muitos outros que nos seguiram em directo, reunidos em Alenquer, Peniche e Nova Oeiras. Além dos que o fizeram em suas casas ou noutros espaços.
Depois de nos falar sobre a dinâmica do Sínodo, o Senhor Patriarca abordou, em jeito de síntese, o guião do 1º capítulo da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” e apresentou o guião do 2º capítulo, seleccionando para isso dois pequenos trechos de cada um destes capítulos.
Apresentamos seguidamente um resumo do que nos disse a propósito do 2º guião, aquele que estamos já a trabalhar neste trimestre:
“Deste 2º capítulo seleccionei :
«A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço da reconciliação com a carne dos outros» (nº 88 — 2º capítulo – «Na crise do compromisso comunitário»).
E porque é que eu seleccionei este trecho do nº 88 que insiste tanto na carne?
Lembramo-nos do Credo numa das suas formulações: ‘creio na ressurreição da carne’.
Quando se diz carne, nesta tradição bíblica, teológica ou existencial, significa o outro, mas o outro enquanto sente. A carne tem este sentido sensível, enquanto chora e ri, enquanto sofre ou está bem. A carne significa o outro concreto.
É como dizermos ‘o Verbo incarnou’, quer dizer, Jesus é Deus na carne humana, não em abstracto.
A crise do compromisso comunitário vem em boa parte de não considerarmos isso mesmo. A crise do compromisso comunitário tem a ver, como diz o Papa, com esta globalização que nos dá ideia de que estamos em todo o mundo ao mesmo tempo, com a televisão, com a internet, com toda a mediatização, mas depois, realmente, não estamos em sítio nenhum. As coisas que vemos na televisão, no telejornal, por exemplo um massacre em África, que nos impressiona, e logo de seguida uma outra coisa qualquer na Europa que nos faz rir ou um fait divers qualquer sem importância; quer dizer: nós vamos passando assim como espectadores e realmente as coisas não ganham carne nem nós incarnamos nelas. É a análise que o Papa faz a esta globalização pelo abstracto em que de alguma maneira nada nos compromete, fica tudo nivelado, umas coisas fazem rir outras chorar mas fica tudo pardo, tudo nivelado. Nem essas coisas incarnam em nós, nem nós, verdadeiramente, incarnamos nelas. Ficamos à espera que no outro dia venha mais um jornal com grandes títulos ou venha mais um telejornal que nos distraia. É preciso incarnar e por isso o Papa insiste que quer nas comunidades quer depois no mundo onde as comunidades estão presentes, as famílias cristãs, as comunidades cristãs, o necessário é incarnar. Aquilo que nós dizemos no credo: ‘incarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se fez homem’.
Deus incarnou e fez-se homem, ser humano.
E o Papa insiste que esse é o cerne do 2º capítulo, que a única maneira de ultrapassar esta crise do compromisso comunitário, quer na sociedade, quer nas comunidades é levarmos muito a sério a incarnação de Cristo e, por isso, a nossa.
Ele faz carne em nós e na nossa carne faz carne dos outros e para os outros.
Gente sensível, gente que não deixa passar, gente que não é espectadora, mas é agente, gente interveniente, comprometida com os outros, os outros como são, como riem e como choram.
O Papa diz que nós temos um grande problema é que deixámos de chorar, quer dizer deixámos de sentir, e a novidade do cristianismo está precisamente aqui.
Não é preciso ser cristão para acreditar que não estamos aqui por acaso, que o mundo tem alguma racionalidade, que o infinitamente grande e o infinitamente pequeno hão-de ter algum sentido…, para isto não é preciso ser cristão.
O que nos faz cristãos é a incarnação, ou seja, o Deus que nós encontramos na carne da humanidade inteira e de cada homem e mulher em particular e que Ele, Jesus Cristo, fez sua a alegria e a dor de todos e que por dentro da carne do sofrimento e da alegria, como os relatos evangélicos no-lo traduzem, Deus fez sua a nossa vida e encheu-a da Sua Vida e depois até a própria morte encheu de Vida e nós vivemos desta vitória da vida sobre a morte, na carne….
A carne dos outros, o desafio da realidade.
Na carne que ganhou, Deus comprometeu-se absolutamente com cada homem e com cada mulher, com cada alegria e com cada choro de qualquer tempo e de qualquer espaço.”
Depois da intervenção inicial o Senhor Patriarca respondeu ainda a questões que lhe foram levantadas quer a partir de cada um dos auditórios representativos da diocese atrás referidos, quer a partir do auditório do Colégio Pedro Arrupe.
Quem não teve oportunidade de escutar o Senhor Patriarca no passado dia 21 ainda pode fazê-lo, uma vez que se encontra disponível no site do Patriarcado.
Vale a pena ouvir o que o nosso Patriarca nos diz.
É muito estimulante para este caminho que Deus nos convida a percorrer!
No passado dia 21 de Janeiro, no auditório do Colégio Pedro Arrupe, o Senhor Patriarca falou-nos do Sínodo Diocesano.
Éramos cerca de 500, a juntar a muitos outros que nos seguiram em directo, reunidos em Alenquer, Peniche e Nova Oeiras. Além dos que o fizeram em suas casas ou noutros espaços.
Depois de nos falar sobre a dinâmica do Sínodo, o Senhor Patriarca abordou, em jeito de síntese, o guião do 1º capítulo da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” e apresentou o guião do 2º capítulo, seleccionando para isso dois pequenos trechos de cada um destes capítulos.
Apresentamos seguidamente um resumo do que nos disse a propósito do 2º guião, aquele que estamos já a trabalhar neste trimestre:
“Deste 2º capítulo seleccionei :
«A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço da reconciliação com a carne dos outros» (nº 88 — 2º capítulo – «Na crise do compromisso comunitário»).
E porque é que eu seleccionei este trecho do nº 88 que insiste tanto na carne?
Lembramo-nos do Credo numa das suas formulações: ‘creio na ressurreição da carne’.
Quando se diz carne, nesta tradição bíblica, teológica ou existencial, significa o outro, mas o outro enquanto sente. A carne tem este sentido sensível, enquanto chora e ri, enquanto sofre ou está bem. A carne significa o outro concreto.
É como dizermos ‘o Verbo incarnou’, quer dizer, Jesus é Deus na carne humana, não em abstracto.
A crise do compromisso comunitário vem em boa parte de não considerarmos isso mesmo. A crise do compromisso comunitário tem a ver, como diz o Papa, com esta globalização que nos dá ideia de que estamos em todo o mundo ao mesmo tempo, com a televisão, com a internet, com toda a mediatização, mas depois, realmente, não estamos em sítio nenhum. As coisas que vemos na televisão, no telejornal, por exemplo um massacre em África, que nos impressiona, e logo de seguida uma outra coisa qualquer na Europa que nos faz rir ou um fait divers qualquer sem importância; quer dizer: nós vamos passando assim como espectadores e realmente as coisas não ganham carne nem nós incarnamos nelas. É a análise que o Papa faz a esta globalização pelo abstracto em que de alguma maneira nada nos compromete, fica tudo nivelado, umas coisas fazem rir outras chorar mas fica tudo pardo, tudo nivelado. Nem essas coisas incarnam em nós, nem nós, verdadeiramente, incarnamos nelas. Ficamos à espera que no outro dia venha mais um jornal com grandes títulos ou venha mais um telejornal que nos distraia. É preciso incarnar e por isso o Papa insiste que quer nas comunidades quer depois no mundo onde as comunidades estão presentes, as famílias cristãs, as comunidades cristãs, o necessário é incarnar. Aquilo que nós dizemos no credo: ‘incarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se fez homem’.
Deus incarnou e fez-se homem, ser humano.
E o Papa insiste que esse é o cerne do 2º capítulo, que a única maneira de ultrapassar esta crise do compromisso comunitário, quer na sociedade, quer nas comunidades é levarmos muito a sério a incarnação de Cristo e, por isso, a nossa.
Ele faz carne em nós e na nossa carne faz carne dos outros e para os outros.
Gente sensível, gente que não deixa passar, gente que não é espectadora, mas é agente, gente interveniente, comprometida com os outros, os outros como são, como riem e como choram.
O Papa diz que nós temos um grande problema é que deixámos de chorar, quer dizer deixámos de sentir, e a novidade do cristianismo está precisamente aqui.
Não é preciso ser cristão para acreditar que não estamos aqui por acaso, que o mundo tem alguma racionalidade, que o infinitamente grande e o infinitamente pequeno hão-de ter algum sentido…, para isto não é preciso ser cristão.
O que nos faz cristãos é a incarnação, ou seja, o Deus que nós encontramos na carne da humanidade inteira e de cada homem e mulher em particular e que Ele, Jesus Cristo, fez sua a alegria e a dor de todos e que por dentro da carne do sofrimento e da alegria, como os relatos evangélicos no-lo traduzem, Deus fez sua a nossa vida e encheu-a da Sua Vida e depois até a própria morte encheu de Vida e nós vivemos desta vitória da vida sobre a morte, na carne….
A carne dos outros, o desafio da realidade.
Na carne que ganhou, Deus comprometeu-se absolutamente com cada homem e com cada mulher, com cada alegria e com cada choro de qualquer tempo e de qualquer espaço.”
Depois da intervenção inicial o Senhor Patriarca respondeu ainda a questões que lhe foram levantadas quer a partir de cada um dos auditórios representativos da diocese atrás referidos, quer a partir do auditório do Colégio Pedro Arrupe.
Quem não teve oportunidade de escutar o Senhor Patriarca no passado dia 21 ainda pode fazê-lo, uma vez que se encontra disponível no site do Patriarcado.
Vale a pena ouvir o que o nosso Patriarca nos diz.
É muito estimulante para este caminho que Deus nos convida a percorrer!
LIVRES PARA LIBERTAR
“Já não escravos, mas irmãos”, assim intitula o Papa Francisco a sua mensagem para este Dia Mundial da Paz. É uma sequência necessária, pois só seremos irmãos quando deixarmos de ser “escravos”, no sentido mais interior do termo. Os irmãos de sangue, tendo a mesma origem natural, têm também a mesma condição. Os irmãos que seremos todos, como Deus sempre quer, acontecem por opção mental e determinação prática de não sujeitar ninguém às nossas ambições, mas de provermos realmente à sua dignidade, garantindo reciprocamente a nossa.
Certamente que nos indignamos, face a tanta sobrevivência de escravaturas várias. Escravatura pessoal, que impede muitos de serem realmente livres, com vida e projeto próprios. Escravatura coletiva, quando há grupos e povos impedidos de decidirem autonomamente o seu destino, sob o peso insuportável de servidões sociais e culturais, financeiras e económicas, impostas e contínuas. Escravaturas múltiplas e chocantes, como as que o Papa elenca na sua mensagem, e afetam a dignidade humana do modo mais humilhante e intolerável.
Sim, repetidas notícias abrem-nos os olhos e tocam-nos as consciências, face às mais abomináveis servidões, que contradizem em absoluto o caminho que os direitos humanos e as respetivas declarações internacionais vão, apesar de tudo, fazendo.
Sabemos também – e damos graças a Deus por isso – como pessoas e grupos, instituições sociais e religiosas, se mobilizam de facto para resistir a servidões impostas e superá-las realmente. Com eles estamos e cada vez mais queremos estar, em apoio concreto de estímulo e cooperação ativa. Especialmente quando indigências graves e seduções traiçoeiras podem levar alguns e algumas a cair em redes de exploração e tráfico. Bom e urgente é, sem dúvida nem demora, corresponder ao apelo do Papa Francisco e reforçar todas as frentes dos direitos humanos, para o seu cabal respeito, longe ou perto.
Sabemos igualmente que o problema tem de ser resolvido no íntimo de cada um, no que profundamente deseja e ambiciona, no que realmente quer ou não quer. Assim como a liberdade espiritual nos faz libertadores dos outros, também os cativeiros de espírito nos tornam opressores dos demais, reduzidos que ficam a joguetes das nossas paixões, ou obstáculos a anular para as satisfazer. O realismo da experiência humana e a ilustração das páginas bíblicas não nos deixam qualquer dúvida a este respeito: quem é livre, liberta; quem é escravo de si mesmo torna-se opressor dos outros.”
(…)
Homilia do Sr Patriarca no dia 1 de Janeiro (N. Sra do Amparo, Benfica)
“Já não escravos, mas irmãos”, assim intitula o Papa Francisco a sua mensagem para este Dia Mundial da Paz. É uma sequência necessária, pois só seremos irmãos quando deixarmos de ser “escravos”, no sentido mais interior do termo. Os irmãos de sangue, tendo a mesma origem natural, têm também a mesma condição. Os irmãos que seremos todos, como Deus sempre quer, acontecem por opção mental e determinação prática de não sujeitar ninguém às nossas ambições, mas de provermos realmente à sua dignidade, garantindo reciprocamente a nossa.
Certamente que nos indignamos, face a tanta sobrevivência de escravaturas várias. Escravatura pessoal, que impede muitos de serem realmente livres, com vida e projeto próprios. Escravatura coletiva, quando há grupos e povos impedidos de decidirem autonomamente o seu destino, sob o peso insuportável de servidões sociais e culturais, financeiras e económicas, impostas e contínuas. Escravaturas múltiplas e chocantes, como as que o Papa elenca na sua mensagem, e afetam a dignidade humana do modo mais humilhante e intolerável.
Sim, repetidas notícias abrem-nos os olhos e tocam-nos as consciências, face às mais abomináveis servidões, que contradizem em absoluto o caminho que os direitos humanos e as respetivas declarações internacionais vão, apesar de tudo, fazendo.
Sabemos também – e damos graças a Deus por isso – como pessoas e grupos, instituições sociais e religiosas, se mobilizam de facto para resistir a servidões impostas e superá-las realmente. Com eles estamos e cada vez mais queremos estar, em apoio concreto de estímulo e cooperação ativa. Especialmente quando indigências graves e seduções traiçoeiras podem levar alguns e algumas a cair em redes de exploração e tráfico. Bom e urgente é, sem dúvida nem demora, corresponder ao apelo do Papa Francisco e reforçar todas as frentes dos direitos humanos, para o seu cabal respeito, longe ou perto.
Sabemos igualmente que o problema tem de ser resolvido no íntimo de cada um, no que profundamente deseja e ambiciona, no que realmente quer ou não quer. Assim como a liberdade espiritual nos faz libertadores dos outros, também os cativeiros de espírito nos tornam opressores dos demais, reduzidos que ficam a joguetes das nossas paixões, ou obstáculos a anular para as satisfazer. O realismo da experiência humana e a ilustração das páginas bíblicas não nos deixam qualquer dúvida a este respeito: quem é livre, liberta; quem é escravo de si mesmo torna-se opressor dos outros.”
(…)
Homilia do Sr Patriarca no dia 1 de Janeiro (N. Sra do Amparo, Benfica)
MENSAGEM «URBI et ORBI» do PAPA FRANCISCO
Queridos irmãos e irmãs, bom Natal!
Jesus, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, nasceu para nós. Nasceu em Belém de uma virgem, dando cumprimento às profecias antigas. A virgem chama-se Maria; o seu esposo, José.
São as pessoas humildes, cheias de esperança na bondade de Deus, que acolhem Jesus e O reconhecem. Assim o Espírito Santo iluminou os pastores de Belém, que acorreram à gruta e adoraram o Menino. E mais tarde o Espírito guiou até ao templo de Jerusalém Simeão e Ana, humildes anciãos, e eles reconheceram em Jesus o Messias. «Meus olhos viram a salvação – exclama Simeão – que ofereceste a todos os povos» (Lc 2, 30-31).
Sim, irmãos, Jesus é a salvação para cada pessoa e para cada povo!
A Ele, Salvador do mundo, peço hoje que olhe para os nossos irmãos e irmãs do Iraque e da Síria que há tanto tempo sofrem os efeitos do conflito em curso e, juntamente com os membros de outros grupos étnicos e religiosos, padecem uma perseguição brutal. Que o Natal lhes dê esperança, como aos inúmeros desalojados, deslocados e refugiados, crianças, adultos e idosos, da Região e do mundo inteiro; mude a indiferença em proximidade e a rejeição em acolhimento, para que todos aqueles que agora estão na provação possam receber a ajuda humanitária necessária para sobreviver à rigidez do inverno, retornar aos seus países e viver com dignidade. Que o Senhor abra os corações à confiança e dê a sua paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra abençoada do seu nascimento, sustentando os esforços daqueles que estão activamente empenhados no diálogo entre Israelitas e Palestinianos.
Jesus, Salvador do mundo, olhe para quantos sofrem na Ucrânia e conceda àquela amada terra a graça de superar as tensões, vencer o ódio e a violência e empreender um caminho novo de fraternidade e reconciliação.
Cristo Salvador dê paz à Nigéria, onde – mesmo nestas horas – mais sangue foi derramado e muitas pessoas se encontram injustamente subtraídas aos seus entes queridos e mantidas reféns ou massacradas. Invoco paz também para outras partes do continente africano. Penso de modo particular na Líbia, no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e nas várias regiões da República Democrática do Congo; e peço a quantos têm responsabilidades políticas que se empenhem, através do diálogo, a superar os contrastes e construir uma convivência fraterna duradoura.
Jesus salve as inúmeras crianças vítimas de violência, feitas objecto de comércio ilícito e tráfico de pessoas, ou forçadas a tornar-se soldados; crianças, tantas crianças vítimas de abuso. Dê conforto às famílias das crianças que, na semana passada, foram assassinadas no Paquistão. Acompanhe todos os que sofrem pelas doenças, especialmente as vítimas da epidemia de ébola, sobretudo na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Ao mesmo tempo que do íntimo do coração agradeço àqueles que estão trabalhando corajosamente para assistir os doentes e os seus familiares, renovo um premente apelo a que sejam garantidas a assistência e as terapias necessárias.
Jesus Menino. Penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo duma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!
Queridos irmãos e irmãs, que hoje o Espírito Santo ilumine os nossos corações, para podermos reconhecer no Menino Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria, a salvação oferecida por Deus a cada um de nós, a todo o ser humano e a todos os povos da terra. Que o poder de Cristo, que é libertação e serviço, se faça sentir a tantos corações que sofrem guerras, perseguições, escravidão. Que este poder divino tire, com a sua mansidão, a dureza dos corações de tantos homens e mulheres imersos no mundanismo e na indiferença, na globalização da indiferença. Que a sua força redentora transforme as armas em arados, a destruição em criatividade, o ódio em amor e ternura. Assim poderemos dizer com alegria: «Os nossos olhos viram a vossa salvação».
Com estes pensamentos, a todos bom Natal!
Queridos irmãos e irmãs, bom Natal!
Jesus, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, nasceu para nós. Nasceu em Belém de uma virgem, dando cumprimento às profecias antigas. A virgem chama-se Maria; o seu esposo, José.
São as pessoas humildes, cheias de esperança na bondade de Deus, que acolhem Jesus e O reconhecem. Assim o Espírito Santo iluminou os pastores de Belém, que acorreram à gruta e adoraram o Menino. E mais tarde o Espírito guiou até ao templo de Jerusalém Simeão e Ana, humildes anciãos, e eles reconheceram em Jesus o Messias. «Meus olhos viram a salvação – exclama Simeão – que ofereceste a todos os povos» (Lc 2, 30-31).
Sim, irmãos, Jesus é a salvação para cada pessoa e para cada povo!
A Ele, Salvador do mundo, peço hoje que olhe para os nossos irmãos e irmãs do Iraque e da Síria que há tanto tempo sofrem os efeitos do conflito em curso e, juntamente com os membros de outros grupos étnicos e religiosos, padecem uma perseguição brutal. Que o Natal lhes dê esperança, como aos inúmeros desalojados, deslocados e refugiados, crianças, adultos e idosos, da Região e do mundo inteiro; mude a indiferença em proximidade e a rejeição em acolhimento, para que todos aqueles que agora estão na provação possam receber a ajuda humanitária necessária para sobreviver à rigidez do inverno, retornar aos seus países e viver com dignidade. Que o Senhor abra os corações à confiança e dê a sua paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra abençoada do seu nascimento, sustentando os esforços daqueles que estão activamente empenhados no diálogo entre Israelitas e Palestinianos.
Jesus, Salvador do mundo, olhe para quantos sofrem na Ucrânia e conceda àquela amada terra a graça de superar as tensões, vencer o ódio e a violência e empreender um caminho novo de fraternidade e reconciliação.
Cristo Salvador dê paz à Nigéria, onde – mesmo nestas horas – mais sangue foi derramado e muitas pessoas se encontram injustamente subtraídas aos seus entes queridos e mantidas reféns ou massacradas. Invoco paz também para outras partes do continente africano. Penso de modo particular na Líbia, no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e nas várias regiões da República Democrática do Congo; e peço a quantos têm responsabilidades políticas que se empenhem, através do diálogo, a superar os contrastes e construir uma convivência fraterna duradoura.
Jesus salve as inúmeras crianças vítimas de violência, feitas objecto de comércio ilícito e tráfico de pessoas, ou forçadas a tornar-se soldados; crianças, tantas crianças vítimas de abuso. Dê conforto às famílias das crianças que, na semana passada, foram assassinadas no Paquistão. Acompanhe todos os que sofrem pelas doenças, especialmente as vítimas da epidemia de ébola, sobretudo na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Ao mesmo tempo que do íntimo do coração agradeço àqueles que estão trabalhando corajosamente para assistir os doentes e os seus familiares, renovo um premente apelo a que sejam garantidas a assistência e as terapias necessárias.
Jesus Menino. Penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo duma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!
Queridos irmãos e irmãs, que hoje o Espírito Santo ilumine os nossos corações, para podermos reconhecer no Menino Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria, a salvação oferecida por Deus a cada um de nós, a todo o ser humano e a todos os povos da terra. Que o poder de Cristo, que é libertação e serviço, se faça sentir a tantos corações que sofrem guerras, perseguições, escravidão. Que este poder divino tire, com a sua mansidão, a dureza dos corações de tantos homens e mulheres imersos no mundanismo e na indiferença, na globalização da indiferença. Que a sua força redentora transforme as armas em arados, a destruição em criatividade, o ódio em amor e ternura. Assim poderemos dizer com alegria: «Os nossos olhos viram a vossa salvação».
Com estes pensamentos, a todos bom Natal!
Homilia
na Solenidade da Dedicação da Sé de Lisboa (resumo)
“Longe ou perto, o necessário é mostrar Cristo presente” (Hino sinodal de Lisboa)
Todo o percurso sinodal de Lisboa, meditando, rezando e ensaiando, um após outro, os luminosos capítulos da exortação apostólica Evangelii Gaudium, não visa senão tal fim: que em cada fiel e em cada comunidade da diocese se ofereçam testemunhos vivos da presença de Cristo. E entre vários outros, que também devem ser, deixai-me insistir em dois pontos concretos de qualificação prioritária: o acolhimento e a família.
Do templo às periferias e das periferias ao templo, eis o círculo da evangelização perfeita. Há dois mil anos – da casa de Nazaré à de Cafarnaum, do convívio com os discípulos à esplanada do templo -, Jesus estava, acolhia, chamava e escutava. Assim mesmo quer continuar agora, em muitos lugares que para isso mesmo são “dedicados”, desta catedral a cada templo da diocese. – Que bom será e há de ser, quando as nossas igrejas forem continuamente assim, espaços onde as periferias existenciais se centralizem, pelo acolhimento, pela ocasião oferecida de serenar a alma e encontrar respostas!
Há inegáveis problemas práticos de arranjo e segurança dos espaços. Mas, se conseguirmos progredir neste ponto, proporcionaremos a muitos um lugar propício à alegria evangélica. Na verdade, se temos de procurar os outros, também temos de lhes proporcionar lugares onde finalmente se encontrem – com Deus, consigo próprios e com os outros em Deus, que o mesmo é dizer “em Cristo”, de quem o templo é sinal. Evangelizar é sair convidando a todos para um encontro que tarda – e em cada templo se há de oferecer.
O Sínodo dos Bispos não deixou de estar atento à problemática geral que hoje atinge agudamente a conceção e vivência cristã da família. São efetivamente condicionalismos novos, socioculturais e quase estruturais, que obrigam a reflexões mais acuradas, para traduzir na atualidade a inegável afirmação de Cristo sobre o matrimónio, duradouro e fecundo. No percurso sinodal de Lisboa, dêmos o maior relevo, não só à pastoral familiar específica, mas à dimensão familiar de toda a pastoral, olhando realmente as nossas comunidades como “famílias de famílias” e não agregados de fiéis mais ou menos conhecidos.
Uma sociedade não é a soma ocasional de indivíduos, que podem ser reduzidos a números estatísticos. Cada qual é pai ou mãe, marido ou mulher, avô ou avó, filho ou filha, irmão ou irmã, parente ou vizinho; e assim mesmo coexiste e deve ser atendido, conjugável, mas não em abstrato. Aliás, a arrastada “crise” que sofremos tem revelado a importância da base familiar, como quase único suporte da sobrevivência económica e emocional de muitos. Importa e urge tirar as devidas consequências desta verdade tão demonstrada.
Por ser sacramento, o matrimónio cristão é presença de Cristo, como sinal concreto do seu amor pela Igreja. Tomemo-lo e reavivemo-lo assim nas nossas comunidades, para o apresentar ao mundo como possibilidade concreta daquele amor persistente em que a própria sociedade se reencontra.
+ Manuel Clemente, Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2014
“Longe ou perto, o necessário é mostrar Cristo presente” (Hino sinodal de Lisboa)
Todo o percurso sinodal de Lisboa, meditando, rezando e ensaiando, um após outro, os luminosos capítulos da exortação apostólica Evangelii Gaudium, não visa senão tal fim: que em cada fiel e em cada comunidade da diocese se ofereçam testemunhos vivos da presença de Cristo. E entre vários outros, que também devem ser, deixai-me insistir em dois pontos concretos de qualificação prioritária: o acolhimento e a família.
Do templo às periferias e das periferias ao templo, eis o círculo da evangelização perfeita. Há dois mil anos – da casa de Nazaré à de Cafarnaum, do convívio com os discípulos à esplanada do templo -, Jesus estava, acolhia, chamava e escutava. Assim mesmo quer continuar agora, em muitos lugares que para isso mesmo são “dedicados”, desta catedral a cada templo da diocese. – Que bom será e há de ser, quando as nossas igrejas forem continuamente assim, espaços onde as periferias existenciais se centralizem, pelo acolhimento, pela ocasião oferecida de serenar a alma e encontrar respostas!
Há inegáveis problemas práticos de arranjo e segurança dos espaços. Mas, se conseguirmos progredir neste ponto, proporcionaremos a muitos um lugar propício à alegria evangélica. Na verdade, se temos de procurar os outros, também temos de lhes proporcionar lugares onde finalmente se encontrem – com Deus, consigo próprios e com os outros em Deus, que o mesmo é dizer “em Cristo”, de quem o templo é sinal. Evangelizar é sair convidando a todos para um encontro que tarda – e em cada templo se há de oferecer.
O Sínodo dos Bispos não deixou de estar atento à problemática geral que hoje atinge agudamente a conceção e vivência cristã da família. São efetivamente condicionalismos novos, socioculturais e quase estruturais, que obrigam a reflexões mais acuradas, para traduzir na atualidade a inegável afirmação de Cristo sobre o matrimónio, duradouro e fecundo. No percurso sinodal de Lisboa, dêmos o maior relevo, não só à pastoral familiar específica, mas à dimensão familiar de toda a pastoral, olhando realmente as nossas comunidades como “famílias de famílias” e não agregados de fiéis mais ou menos conhecidos.
Uma sociedade não é a soma ocasional de indivíduos, que podem ser reduzidos a números estatísticos. Cada qual é pai ou mãe, marido ou mulher, avô ou avó, filho ou filha, irmão ou irmã, parente ou vizinho; e assim mesmo coexiste e deve ser atendido, conjugável, mas não em abstrato. Aliás, a arrastada “crise” que sofremos tem revelado a importância da base familiar, como quase único suporte da sobrevivência económica e emocional de muitos. Importa e urge tirar as devidas consequências desta verdade tão demonstrada.
Por ser sacramento, o matrimónio cristão é presença de Cristo, como sinal concreto do seu amor pela Igreja. Tomemo-lo e reavivemo-lo assim nas nossas comunidades, para o apresentar ao mundo como possibilidade concreta daquele amor persistente em que a própria sociedade se reencontra.
+ Manuel Clemente, Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2014

DESAFIOS PASTORAIS DA FAMÍLIA
As Paulinas publicaram um pequeno livro sobre a recente Assembleia Geral extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família, intitulado “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”
O livro contém:
1 — Mensagem do Sínodo dos Bispos
2 — Relação final do Sínodo dos Bispos
(com as votações de cada número)
3—Saudação do Papa Francisco aos padres sinodais
durante a 1ª Congregação Geral
4—Relações dos Círculos Menores (trabalho de grupos)
5 – Discurso do Papa Francisco no encerramento
da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos
6 – Comentário de António Spadaro, SJ, um dos padres sinodais.
Este livro encontra-se à venda na nossa paróquia (Secretariado Paroquial, Lojinha, Venda de Natal) pelo preço de 5 €.
MENSAGEM FINAL DO SÍNODO DOS BISPOS
Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dirigimo-nos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida. (…)
Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos numa família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramo-nos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em actos uma longa série de esplendores mas também de cansaços.
A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, permitiu-nos escutar a voz de tantas experiências familiares. (…) Apresentamo-vos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas experimentam-se luzes e sombras, desafios exaltantes mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão faz-se ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.
Existem, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Assiste-se, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, de modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimónios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.
Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos no sofrimento que pode aparecer num filho portador de deficiência, numa doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que lhes é doada e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.
Pensemos nas dificuldades económicas causadas por sistemas perversos… Pensemos no pai ou na mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias das suas famílias, e nos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem expectativas…
Pensemos também na multidão das famílias pobres, naquelas que se agarram a um barco para atingir uma meta de sobrevivência, nas famílias refugiadas que sem esperança migram nos desertos, naquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores espirituais e humanos, naquelas atingidas pela brutalidade das guerras e das opressões. Pensemos também nas mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e aos membros de tantas famílias humilhadas e em dificuldade. (...) Fazemos apelo aos governos e às organizações internacionais para promoverem os direitos da família para o bem comum.
Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta, acolhedora, sem excluir ninguém. (…)
Existe, contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas. Esta luz, na vida nupcial dos cônjuges, acende-se com o encontro: é um dom, uma graça que se expressa... quando os dois vultos estão um diante do outro, numa “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca. O amor do homem e da mulher ensina-nos que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser ele mesmo, mesmo permanecendo diferente do outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo. (…)
Para que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia-se com o noivado, tempo de espera e de preparação. Realiza-se em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua presença e a sua graça. Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que perduram também além do vigor e do frescor juvenil. O amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela pessoa que se ama… A esta luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar de tantas dificuldades dos limites humanos; é um dos milagres mais belos, embora seja também o mais comum.
Este amor difunde-se por meio da fecundidade… que não é somente procriação, mas também dom da vida divina no Baptismo, educação e catequese dos filhos. É também capacidade de oferecer vida, afecto, valores, uma experiência possível também a quem não pode gerar. As famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho para todos…
Durante este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, tem-se sempre a presença e o acompanhamento de Deus. A família de Deus experimenta isto no afecto e no diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Depois vive isto ao escutarem juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada dia. Existem, portanto, o empenho quotidiano na educação à fé e à vida boa e bonita do Evangelho, à santidade. Esta tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afecto e dedicação também pelos avôs e avós. Assim, a família apresenta-se como autêntica Igreja doméstica…(…)
O vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a família se senta à mesa com o Senhor. Ele dá-Se a todos nós, peregrinos na história em direcção à meta do encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Col 3,11). Por isso, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, reflectimos sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos divorciados recasados.
Nós, Padres Sinodais, pedimo-vos para caminhar connosco em direcção ao próximo Sínodo. Em vós se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:
Senhor, dá a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios, que sejam vertente de uma família livre e unida.
Senhor, dá aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.
Senhor, dá aos filhos a possibilidade de serem sinal de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel.
Senhor, dá a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.
Senhor, dá a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.
Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dirigimo-nos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida. (…)
Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos numa família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramo-nos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em actos uma longa série de esplendores mas também de cansaços.
A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, permitiu-nos escutar a voz de tantas experiências familiares. (…) Apresentamo-vos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas experimentam-se luzes e sombras, desafios exaltantes mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão faz-se ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.
Existem, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Assiste-se, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, de modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimónios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.
Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos no sofrimento que pode aparecer num filho portador de deficiência, numa doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que lhes é doada e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.
Pensemos nas dificuldades económicas causadas por sistemas perversos… Pensemos no pai ou na mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias das suas famílias, e nos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem expectativas…
Pensemos também na multidão das famílias pobres, naquelas que se agarram a um barco para atingir uma meta de sobrevivência, nas famílias refugiadas que sem esperança migram nos desertos, naquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores espirituais e humanos, naquelas atingidas pela brutalidade das guerras e das opressões. Pensemos também nas mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e aos membros de tantas famílias humilhadas e em dificuldade. (...) Fazemos apelo aos governos e às organizações internacionais para promoverem os direitos da família para o bem comum.
Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta, acolhedora, sem excluir ninguém. (…)
Existe, contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas. Esta luz, na vida nupcial dos cônjuges, acende-se com o encontro: é um dom, uma graça que se expressa... quando os dois vultos estão um diante do outro, numa “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca. O amor do homem e da mulher ensina-nos que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser ele mesmo, mesmo permanecendo diferente do outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo. (…)
Para que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia-se com o noivado, tempo de espera e de preparação. Realiza-se em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua presença e a sua graça. Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que perduram também além do vigor e do frescor juvenil. O amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela pessoa que se ama… A esta luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar de tantas dificuldades dos limites humanos; é um dos milagres mais belos, embora seja também o mais comum.
Este amor difunde-se por meio da fecundidade… que não é somente procriação, mas também dom da vida divina no Baptismo, educação e catequese dos filhos. É também capacidade de oferecer vida, afecto, valores, uma experiência possível também a quem não pode gerar. As famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho para todos…
Durante este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, tem-se sempre a presença e o acompanhamento de Deus. A família de Deus experimenta isto no afecto e no diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Depois vive isto ao escutarem juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada dia. Existem, portanto, o empenho quotidiano na educação à fé e à vida boa e bonita do Evangelho, à santidade. Esta tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afecto e dedicação também pelos avôs e avós. Assim, a família apresenta-se como autêntica Igreja doméstica…(…)
O vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a família se senta à mesa com o Senhor. Ele dá-Se a todos nós, peregrinos na história em direcção à meta do encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Col 3,11). Por isso, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, reflectimos sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos divorciados recasados.
Nós, Padres Sinodais, pedimo-vos para caminhar connosco em direcção ao próximo Sínodo. Em vós se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:
Senhor, dá a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios, que sejam vertente de uma família livre e unida.
Senhor, dá aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.
Senhor, dá aos filhos a possibilidade de serem sinal de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel.
Senhor, dá a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.
Senhor, dá a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.